Por Carlos Reis:
Todos
se alinharam no alto da colina, sacaram as armas e esperaram.
Adric
adiantou-se sobre os guerreiros – de espada e escudo em punhos – sorriu
levemente enquanto espreitava o acampamento inimigo e praguejava com a voz
poderosa:
- Esses homens macularam com sangue e desonra
nossas terras. Essa é uma ofensa intolerável para com o nosso povo. Esperemos
todos estarem cientes de nossa presença para nos enfrentarmos de igual para
igual.
Os
vigias deram o alarme, a resistência inimiga foi rapidamente formada e os
sulistas já avançavam bradando. Adric sorriu novamente:
- Agora eu testo as habilidades e fidelidades
de todos vocês. Só ataquem quem atacar vocês. Não se ajudem, cada um de vocês é
auto-suficiente para defender-se sozinho. Sem piedade, sem prisioneiros.
Os
sulistas vieram disparados em nossa direção e um por um, todos foram sendo
ceifados. As mulheres avançavam pelo lado direito do acampamento, eliminando os
arqueiros e batedores e se espalhando por entre as choupanas as incendiando.
Mas os sulistas insistiam em subir a colina e digladiar conosco. Decisão tola. Todos
foram assolados. Os que viam em seguida fugiram aterrorizados à medida que
descíamos em direção ao acampamento com os olhos fumegando pelo combate.
...
Surge
das sombras aquele que seria o líder da legião sulista, guerreiro alto de
pisadas fortes, armado com um pedaço de madeira vem derrubando todos que estão
no caminho furioso com nossa chegada. Talvez tenhamos o atrapalhado no cortejo
de alguma rapariga sulista, penso. Imagino-o decepado no chão poeirento e tarde
de mais percebo que o subjuguei, pois num rápido movimento ele chegou até a mim
e me derrubou bradando em direção a Adric.
Rapidamente
levantei e fiquei observando a furiosa luta dos dois se iniciar. Leão contra
leão. Duas lâminas brandindo e faiscando velozmente ao sol que emergia no
horizonte. Quando me dei conta, uma roda havia se formado, os dois viram-se
encurralados por todos os homens e mulheres da expedição. Contudo, a luta foi
pausada. Rosnando feito cão, o líder sulista reagiu à situação:
- Maldito seja o povo destas terras! Maldito
seja aquele, o líder dessa falange! Desonroso em me manter vivo para em seguida
matar-me sem ao menos dar-me o direito de uma luta justa!
Subitamente,
Adric bradou:
- Essa é uma luta justa, demônio sulista! – erguendo sua lâmina - Nenhum deles se envolverá nesse embate. Só
atacaram se forem atacados antes.
Os
dois comandantes se puseram em guarda e avançaram um contra o outro novamente.
Suas lâminas poderosas trincavam furiosamente em meio à gigantesca fogueira que
o acampamento havia se tornado. Os guerreiros agora corriam de volta à colina
para manter-se a salvo das chamas. Apenas os dois líderes continuaram lá,
ignorando o calor abrasante, digladiando em meio ao inferno, sem recuar. Suas
mentes não mais controlavam suas ações, seus corpos, apenas seus espíritos sedentos
por batalhas os mantinham vivos.
Mesmo
quando suas vestes queimavam, mesmo quando suas carnes crepitavam, nenhum deles
desistia. Rodopiavam, trocavam socos, chutes e espadadas que podiam ser ouvidas
de longe como tambores e triângulos em celebrações.
O
fogo foi crescendo vertiginosamente a ponto de cubrir-me a visão do embate. O
que se via era apenas a silhueta dos dois. O que se ouvia eram apenas os sons
dos seus golpes, ecoando.
Espetáculo
nunca antes observado por nenhum guerreiro de nosso povo, nunca antes cantado
por nenhum bardo. A surpresa estava estampada no rosto de cada um dos
espectadores observando incrédulos, aquela cena única. De repente, algo
aconteceu: um dos dois, não se sabia quem, havia tombado! O outro havia caído
com o golpe que aplicara para em seguida levantar cambaleando e vir em nossa
direção.
Temendo
que nosso inimigo tivesse sido vitorioso e estivesse vindo para nos enfrentar,
sacamos nossas armas para abatê-lo.
Mas
não era nosso inimigo, era o Adric, que cambaleava sorrindo até nós.
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