sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Prévia de um conto

Por Carlos Reis:




Todos se alinharam no alto da colina, sacaram as armas e esperaram.
Adric adiantou-se sobre os guerreiros – de espada e escudo em punhos – sorriu levemente enquanto espreitava o acampamento inimigo e praguejava com a voz poderosa:
 - Esses homens macularam com sangue e desonra nossas terras. Essa é uma ofensa intolerável para com o nosso povo. Esperemos todos estarem cientes de nossa presença para nos enfrentarmos de igual para igual.
Os vigias deram o alarme, a resistência inimiga foi rapidamente formada e os sulistas já avançavam bradando. Adric sorriu novamente:
 - Agora eu testo as habilidades e fidelidades de todos vocês. Só ataquem quem atacar vocês. Não se ajudem, cada um de vocês é auto-suficiente para defender-se sozinho. Sem piedade, sem prisioneiros.
Os sulistas vieram disparados em nossa direção e um por um, todos foram sendo ceifados. As mulheres avançavam pelo lado direito do acampamento, eliminando os arqueiros e batedores e se espalhando por entre as choupanas as incendiando.
Mas os sulistas insistiam em subir a colina e digladiar conosco. Decisão tola. Todos foram assolados. Os que viam em seguida fugiram aterrorizados à medida que descíamos em direção ao acampamento com os olhos fumegando pelo combate.
...
Surge das sombras aquele que seria o líder da legião sulista, guerreiro alto de pisadas fortes, armado com um pedaço de madeira vem derrubando todos que estão no caminho furioso com nossa chegada. Talvez tenhamos o atrapalhado no cortejo de alguma rapariga sulista, penso. Imagino-o decepado no chão poeirento e tarde de mais percebo que o subjuguei, pois num rápido movimento ele chegou até a mim e me derrubou bradando em direção a Adric.
Rapidamente levantei e fiquei observando a furiosa luta dos dois se iniciar. Leão contra leão. Duas lâminas brandindo e faiscando velozmente ao sol que emergia no horizonte. Quando me dei conta, uma roda havia se formado, os dois viram-se encurralados por todos os homens e mulheres da expedição. Contudo, a luta foi pausada. Rosnando feito cão, o líder sulista reagiu à situação:
 - Maldito seja o povo destas terras! Maldito seja aquele, o líder dessa falange! Desonroso em me manter vivo para em seguida matar-me sem ao menos dar-me o direito de uma luta justa!
Subitamente, Adric bradou:
 - Essa é uma luta justa, demônio sulista! – erguendo sua lâmina - Nenhum deles se envolverá nesse embate. Só atacaram se forem atacados antes.
Os dois comandantes se puseram em guarda e avançaram um contra o outro novamente. Suas lâminas poderosas trincavam furiosamente em meio à gigantesca fogueira que o acampamento havia se tornado. Os guerreiros agora corriam de volta à colina para manter-se a salvo das chamas. Apenas os dois líderes continuaram lá, ignorando o calor abrasante, digladiando em meio ao inferno, sem recuar. Suas mentes não mais controlavam suas ações, seus corpos, apenas seus espíritos sedentos por batalhas os mantinham vivos.
Mesmo quando suas vestes queimavam, mesmo quando suas carnes crepitavam, nenhum deles desistia. Rodopiavam, trocavam socos, chutes e espadadas que podiam ser ouvidas de longe como tambores e triângulos em celebrações.
O fogo foi crescendo vertiginosamente a ponto de cubrir-me a visão do embate. O que se via era apenas a silhueta dos dois. O que se ouvia eram apenas os sons dos seus golpes, ecoando.
Espetáculo nunca antes observado por nenhum guerreiro de nosso povo, nunca antes cantado por nenhum bardo. A surpresa estava estampada no rosto de cada um dos espectadores observando incrédulos, aquela cena única. De repente, algo aconteceu: um dos dois, não se sabia quem, havia tombado! O outro havia caído com o golpe que aplicara para em seguida levantar cambaleando e vir em nossa direção.
Temendo que nosso inimigo tivesse sido vitorioso e estivesse vindo para nos enfrentar, sacamos nossas armas para abatê-lo.
Mas não era nosso inimigo, era o Adric, que cambaleava sorrindo até nós.

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